Oi! Quero compartilhar a história da minha bisavó, uma narrativa que me tomou quase dois anos para desvendar e reconstruir, como se fosse um quebra-cabeças..
Sempre ouvi falar do lado alemão da família e achei que seria mais fácil pesquisar por lá. Encontrei algumas informações significativas, mas não consegui me identificar tanto quanto imaginei. Na realidade, deparei-me com relatos um tanto enigmáticos, o que não me instigou a me conectar com esse antepassado. Apesar de reconhecer a incrível força e dedicação da minha bisavó paterna, uma mulher notável que viveu quase um século.
Bem, a partir daí, comecei a procurar informações sobre o lado espanhol da família, ainda do lado paterno.
Minha avó Izabel era uma pessoa divertida e gentil. Ao pesquisar sobre sua imigração, encontrei um caminho claro a seguir. Porém, ao refletir sobre minha identificação com a cultura espanhola, percebo que, na verdade, não sinto uma conexão direta. Sinceramente, não consigo mencionar nada além do fato de que a ilha espanhola que visitei era maravilhosa.
Bem, acho que aquela busca chegou ao fim.
Decidi então investigar um pouco mais sobre a minha ascendência materna.
De vez em quando, minha mãe me contava sobre seu pai. Ele era uma pessoa dedicada e um ótimo pai. Sempre trabalhou muito e era muito atencioso com ela, além de ter uma personalidade agradável e divertida. Infelizmente, sua vida difícil o levou ao alcoolismo, que tirou sua vida anos depois.
Mas, mesmo assim, por anos minha mãe compartilhou boas lembranças, assim como as de sua avó.
Em resumo, ela veio da Iugoslávia para o Brasil e nunca se adaptou muito bem à língua e aos costumes do país. E não teve a vida próspera que sonhou para sua família. Em uma dessas conversas com minha mãe, perguntei se ela tinha algum documento da família ou se poderia escrever algumas informações que lembrava.
Já se passavam dois anos desde que comecei a busca, mas, para minha surpresa, dessa vez fiz alguns progressos. Quando retomei a pesquisa, consegui preencher lacunas e ir além das informações que me foram dadas.
Entendi que, para me aprofundar, seria necessário procurar documentos e analisar possíveis mudanças ortográficas, pesquisar datas, fatos históricos e todas as possíveis alterações que possam ter ocorrido devido à dissolução da Iugoslávia.
Salvei todos os documentos que encontrei online, assim como os que minha mãe forneceu, separando as informações confirmadas das duvidosas.
Mas, incrivelmente, tudo começou a se encaixar. Acho que agora posso contar a história sob outra perspectiva.
Em 1895, Jaga Barany nasceu em uma aldeia chamada Vaška, no condado de Virovitica-Podravina, anteriormente localizada na Iugoslávia, mas agora pertencente à Croácia.
Seus pais eram Vinko Barany e Julia Tischler.
Eles eram trabalhadores rurais e tinham uma vida humilde, mas gostavam de suas vidas e do lugar onde viviam.
(Condado de Virovitica-Podravina - Dias de hoje - Foto: Google)
Acredito que por volta de 1912 ela se casou com Ivan Borbás.
A região onde viviam era chamada Império Austro-Húngaro, e durante esse período começaram as Guerras Balcânicas, causando conflitos políticos até o início da Primeira Guerra Mundial.
Devido à situação do país e ao medo da guerra, Jaga, seu marido e seus pais decidiram sair em busca de um ambiente pacífico e melhores condições de vida.
Seu marido já havia ido para os Estados Unidos e, portanto, consideraram que poderia ser o melhor destino para construir uma nova vida. E assim realizaram a primeira tentativa de imigração rumo a América do Norte.
No entanto, a perspectiva lá não era boa quanto parecia ser, e eles realmente sentiam falta de sua terra natal. Por volta do ano de 1920, Jaga, Ivan e seus filhos John e Mary decidiram retornar ao seu país. Ao chegarem, encontraram destruição e o lugar que antes chamavam de lar já não era mais como lembravam. Os conflitos ainda não haviam terminado, havia muita insegurança e o destino daqueles que permaneceram lá era incerto.
As pessoas haviam ouvido muito sobre um lugar distante da guerra, onde haveria muitas oportunidades de trabalho e concessões de terras para estrangeiros. Essa era a oportunidade que precisavam. Eles tinham um novo destino: o Brasil.
Um lugar famoso por suas plantações de café e por acolher estrangeiros de todo o mundo, terras férteis e um destino próspero.
Mais uma vez, embarcaram de navio para essa distante terra na América do Sul, no ano de 1927.
Finalmente longe da guerra, agora seria possível sonhar novamente.
No entanto, quando chegaram ao Brasil, nada era como haviam imaginado.
Havia um número enorme de estrangeiros competindo por empregos que beiravam a escravidão e não havia garantia de moradia ou condições de vida decentes.
Havia uma barreira difícil devido ao idioma tão diferente, assim como os hábitos e costumes.
Como muitos dos imigrantes compartilhavam idiomas semelhantes, assim como outros aspectos culturais, tiveram algumas vantagens na integração ao país.
Mesmo assim, era melhor estar lá sobrevivendo do que estar no meio da guerra. Quem sabe, talvez os descendentes tivessem melhores oportunidades.
Em 1929, José nasceu, desta vez em solo brasileiro. Alguns anos depois, Ivan faleceu, deixando Jaga viúva.
Jaga, agora conhecida como Ágata ou Inês, após a tradução de seu nome, só conseguiu obter seu documento de estrangeira em 1960.
José, seu filho, casou-se com Daura e viveram uma vida humilde em São Paulo.
Em 1961, Suely nasceu, filha de José e Daura, e neta de Jaga.
Neste ponto, posso contar a história de uma perspectiva mais pessoal, porque Suely é minha mãe.
(Minha bisavó Jaga Barany e minha mãe Suely - 1960's, São Paulo, Brasil)
Minha mãe sempre contou boas histórias sobre viver com seu pai e avó, mas, mesmo assim, acredito que era difícil associar toda essa história a terras distantes e à sobrevivência como refugiados de guerra.
Hoje, a antiga Iugoslávia faz parte da Croácia, independente desde 1991, curiosamente o mesmo ano em que nasci.
Tive a oportunidade de pisar em solo croata e conhecer um pouco sobre o povo e a cultura em 2015, quando estive em Dubrovnik.
Me apaixonei pela cidade encantadora, pela língua e por toda a cultura. E não fazia ideia de como estava próxima de me conectar com minha própria história por meio dessa experiência.
Hoje, mantenho minha admiração e desejo de conhecer e aprender sobre a Croácia e sua cultura balcânica e, quem sabe, encontrar o sentido de pertencimento que venho buscando por toda a minha vida.
Danielle Hernandes